Queremos! celebra 15 anos promovendo articulação inédita entre territórios culturais do Rio
- Vivendo de Shows
- 18 de abr.
- 4 min de leitura
Festival reúne 14 mil pessoas em quatro dias e aposta na construção coletiva para transformar a cadeia produtiva da música no Rio de Janeiro
Por Letícia Pinheiro, fundadora do Vivendo de Shows

Em comemoração aos seus 15 anos, o Queremos! foi além do palco e protagonizou um movimento estratégico para repensar os rumos da música e da cultura no Rio de Janeiro. A sexta edição do festival, realizada entre os dias 10 e 13 de abril em quatro espaços distintos da cidade — Vivo Rio, Circo Voador, Marina da Glória e Teatro Casa Grande —, atraiu 14 mil pessoas e reuniu mais de 200 articuladores, artistas, inovadores e produtores culturais de diferentes regiões e vivências da capital fluminense.
Batizada de "O FEAT QUE QUEREMOS", a iniciativa se consolidou como o eixo central do festival, com o propósito de fomentar parcerias e redes de colaboração que ultrapassem os circuitos tradicionais da música, promovendo inovação, impacto social e diversidade territorial. A proposta, conduzida por Babi Bono (Conecta Cria) e Geisa Lino (Redes da Maré), foi mais que simbólica: trouxe para o centro do debate representantes de coletivos, centros culturais, rodas de rima, bailes funk, slams indígenas e movimentos periféricos, numa cartografia viva da cena musical carioca expandida.
“Este movimento coletivo demonstra que a verdadeira inovação e o rico repertório cultural que movimentam a cena musical carioca em novas direções emanam do que entendemos como o centro expandido da cidade – as periferias”, afirma Babi Bono. “É um verdadeiro 'feat' de potências, construindo uma rede de articulação e criação.”
Uma rede viva de trocas e proposições
Entre os destaques musicais do festival, nomes consagrados como Amaro Freitas, Anelis Assumpção, Arnaldo Antunes, Liniker, Luedji Luna e Nabiyah Be dividiram o lineup com talentos em ascensão, como Yago Oproprio, Sophia Chablau & Felipe Vaqueiro, além dos internacionais Hermanos Gutiérrez e Yaya Bey. Sete DJ sets — incluindo colaborações B2B — completaram a diversidade sonora dos palcos.
Mas o que realmente diferenciou esta edição foi o empenho do festival em servir como plataforma de conexão estruturante. Com apoio do Conselho Consultivo do Queremos! — composto por quatro mulheres com forte atuação nas áreas de música, inovação e cultura — a proposta foi além do discurso e pavimentou um plano concreto de continuidade: mapeamento de calendários culturais, identificação de sinergias, estruturação de novas iniciativas e ampliação do acesso a recursos públicos e privados.
“Não é uma ação isolada, é um compromisso contínuo do Queremos! com a transformação da cadeia produtiva da música no Rio”, afirma Pedro Seiler, diretor do festival. “Temos a responsabilidade de usar nossa visibilidade para amplificar vozes que historicamente foram silenciadas.”
Seu sócio, Felipe Continentino, endossa: “O 'FEAT QUE QUEREMOS' é um grito pela urgência de reconhecermos a riqueza cultural multifacetada que pulsa na nossa cidade. Não queremos apenas apresentar festivais — queremos ser agentes de mudança estrutural”.
Potências presentes
Com presença de representantes de dezenas de coletivos, espaços culturais e artistas de diversas regiões da cidade, o festival funcionou como vitrine e laboratório de inovação sociocultural. As iniciativas presentes incluíram:
2050 Future Company: laboratório criativo de arte, moda e tecnologia fundado no Morro Santo Amaro, conectando inovação e cultura periférica.
Amanda Santana: indigenista e fundadora da Tucum Brasil, atuando na valorização da arte indígena e descolonização da sociedade.
Arena Samol e Coletivo do Monte: coletivos do Morro da Providência que promovem transformação social através da arte, produção e organização comunitária, gerando renda e fortalecendo vínculos territoriais.
Danilo Canindé: ator indígena periférico em retomada junto ao povo Canindé.
Decodifica: instituto criado na favela que forma, articula e mobiliza juventudes negras e periféricas por meio da arte, dados e comunicação.
Domina Funk: empresa que conecta instituições e o movimento funk para gerar valor mercadológico e sociocultural.
Galeria Providência: projeto cultural inovador que transforma o Morro da Providência em uma galeria de arte a céu aberto.
Galo da Providência: primeira Agência Escola de Comunicação para Jovens da Providência, capacitando jovens em diversas áreas da comunicação.
Igor Pedroso: artista amazônida, com participação na série Cidade Invisível/Netflix.
Instituto Ademafia: organização social que utiliza o skate, a cultura e a arte como ferramentas de transformação social no Morro Santo Amaro.
Kaê Guajajara: cantora e multiartista indígena da periferia da Maré.
Lado B: centro cultural que celebra a cultura preta, periférica e underground.
Lian Gaia: atriz e performer indígena periférica do povo Kariri.
Mostra Maré de Música: projeto da Redes da Maré que promove shows gratuitos, conectando artistas consagrados e talentos das periferias.
Nathalia Grilo: DJ, curadora, consultora de artistas e autora que investiga a espiritualidade na música negra global.
O Clube do Disco: comunidade dedicada à escuta ativa da música e ao resgate da memória e da coletividade através do vinil, com foco na música brasileira.
Redes da Maré: organização da sociedade civil com atuação no conjunto de favelas da Maré, desenvolvendo ações em diversas áreas para garantir direitos aos moradores.
Samol Projetos: associação voltada para o desenvolvimento integral de crianças do Morro da Providência através do esporte, educação, arte e inclusão social.
Tecoara Baré: multiartista do povo Baré.
Tucum Brasil e Casa Tucum: plataforma que fortalece a arte indígena através da comercialização justa e conexão direta com povos originários.
Winona Evelyn: multiartista indígena favelada da Vila da Penha e criadora do Slam Sereno.
Também marcaram presença nomes como Amanda Santana, fundadora da Tucum Brasil, e Nathalia Grilo, DJ e pesquisadora da música negra espiritualizada.
Um marco para o futuro
Com uma edição que articulou espetáculo e propósito, o Queremos! reafirma sua vocação de agente articulador da cultura musical do Rio. Ao completar 15 anos, mira os próximos com uma agenda voltada à descentralização dos investimentos, cocriação de projetos e amplificação de vozes plurais.
O “feat” que eles querem — e que o Rio precisa — já começou.
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