Massaki lança o álbum "Do Vagão Para o Mundo" e fala sobre sua jornada no rap e a vida independente
- Vivendo de Shows
- 26 de set. de 2024
- 7 min de leitura
Revelação do rap brasileiro, Massaki reflete sobre sua trajetória nas ruas e nos vagões de São Paulo, o impacto das redes sociais e o desafio de lançar seu primeiro álbum pela própria gravadora

O rapper Massaki, um dos grandes nomes em ascensão no cenário do rap brasileiro, está prestes a lançar seu tão aguardado primeiro álbum, Do Vagão Para o Mundo. Conhecido por suas rimas poéticas e carregadas de musicalidade, Massaki vem conquistando cada vez mais espaço, tanto no mundo digital quanto nas ruas, onde começou sua trajetória artística. O álbum, que será lançado pela gravadora independente do próprio artista, Fábrica de Flows, trará três faixas que retratam diferentes aspectos de sua jornada. Entre elas, estão "De Versos, Passageiros", que será acompanhada de um videoclipe já no lançamento, "Carta de Paz" e "Do You Wanna Go".
Com parcerias publicitárias de marcas de peso como Red Bull, Tripside e Joog Tech, além de shows marcados pelo Brasil, o futuro de Massaki promete ser brilhante. Nascido em Guarulhos, o artista de 28 anos viu sua vida se transformar nos últimos anos, após explodir nas redes sociais com vídeos que acumulam milhões de visualizações.
Em entrevista exclusiva ao Vivendo de Shows, Massaki compartilha detalhes sobre a criação do álbum, os desafios da carreira independente e como tem lidado com o impacto da fama digital em sua vida e arte.
1. Massaki, como foi o processo de transformar suas experiências rimando nos vagões de trem em um álbum tão importante como Do Vagão Para o Mundo?
R: Tem sido uma caminhada longa e desafiadora até aqui. Quando acontece um reconhecimento em grandes proporções de um artista no mundo digital, muitas vezes se tem uma ideia de que tudo aconteceu "da noite para o dia", mas a verdade é que, em muitos casos, como o meu, a caminhada é longa e muito dura até que esse reconhecimento aconteça. E uma outra verdade é que depois que essa explosão rola, o mais difícil ainda está por vir, pois todos passam a se perguntar: "E agora, o que ele vai apresentar ao mercado? Qual é de fato a profundidade artística desse cara?" Minha maior preocupação é diluir minha capacidade artística no longo prazo, não estou chegando no mercado para ir bem numa corrida de 100 metros, mas sim para marcar história no longo prazo. O que as pessoas estão vendo já significa muito para mim, mas ainda é pouco para o que me vejo capaz de mostrar, então, nada mais importante do que contar minha história de uma forma mais verdadeira, de um jeito mais visceral no lançamento deste primeiro EP. Músicas são fios condutores de histórias, de jornadas, de caminhadas, então nada mais apropriado do que trazer as pessoas para a realidade dos artistas que pagam suas contas através do trabalho no vagão todos os dias.
2. O que essas três músicas que você escolheu para o lançamento representam na sua trajetória e o que elas dizem sobre sua versatilidade artística?
R: Começando pelo final da pergunta, se trata de um EP que tem muito de mim não só na caneta, mas também nas melodias e elementos que costuram as faixas. Costumo dizer que arte não se define e o que mais importa é como ela toca o coração de cada um quando acessa essa arte. Mas o que posso dizer é que cada faixa tem sua importância, sem dúvida nenhuma. A pergunta chave é: que história vamos contar com cada uma? E respondo:
1) De versos, passageiros: “Tenho a força de um leão, eu tô na televisão, meu sonho tá na minha mão”.
“Vou te passar uma visão, visão de superação...Quero rimar pro mundão!” Essas frases dizem tudo! Essa é a beleza da música urbana, da música popular...podermos falar de nossas batalhas através da arte, e esse é um dos grandes ativos dessa faixa, de mostrar que podemos vencer, que o povo brasileiro é forte e que para darmos certo, podemos sonhar e fazer desse sonho uma realidade. Claro que gêneros como o Rap e o próprio Blues, por exemplo, são caracterizados por gêneros de protesto social, mas há momentos que ao invés de "apenas" protestar, precisamos tocar o coração das pessoas, motivá-las a não olhar para o problema, mas sim para o que somos capazes de fazer ir em frente apesar dele.
2) Carta de paz: “Para onde é que vai tanta vida inocente que não volta mais?” Esta é uma pergunta que toma conta de mim todos os dias, desde o início da minha vida na quebrada. E, por ser parte fundamental de mim, nada mais genuíno do que mergulhar nisso no lançamento. Esta faixa atrairá a atenção do mercado para temas importantes, de cunho fortemente social, com abordagens que não só me incomodam, como me inspiram. Acho importante também ser absorvido como um artista responsável socialmente, provocando reflexões e questionando os infindáveis conflitos entre seres humanos, sejam nos guetos do Brasil, como também entre nações pelo mundo afora (a guerra da Palestina, por exemplo, é citada na música).
“Ideologias, etnias, guerras territoriais, isso é guerra demais. Nada aprendemos com nossos ancestrais”. Fica a reflexão!
3) Do you wanna go: Essa música sou eu, é a minha alma. Não por acaso foi escolhida como faixa de fechamento do EP. Com um balanço único, ela cabe nas pistas, nas ruas, no Brasil, no exterior, em qualquer lugar.
“Preparem a pipoca para o espetaculow....Do you wanna go, brow? Drink a shot, pow pow pow!!”
É nessa faixa que está o speedflow já super conhecido do público em meus conteúdos: "tem mano que cola comigo tentando provar que é meu aliado...". Ela é Hip Hop e até mesmo Dance, por isso vejo nela um potencial enorme para romper fronteiras e ser abraçada até mesmo pelo universo Pop.
3. Como é lançar um álbum de forma independente pela sua própria gravadora, a Fábrica de Flows, e quais foram os principais desafios que você enfrentou nesse processo?
R: Pergunta interessante. Desde que começou todo o processo de ampliação do horizonte da minha arte através do mundo digital, tivemos uma série de conversas importantes com algumas gravadoras, agregadoras e produtores do mercado fonográfico. No caso das gravadoras, foram reuniões com algumas de nicho e outras que chamamos de peixes grandes da indústria. Pra falar a verdade, teve conversas em que eu, durante o encontro, me perguntava se era verdade mesmo, pois tive oportunidade de conversar com pessoas que admiro há muito tempo e que, em alguns casos, eu tenho como referência em alguns aspectos. Mas todos somos plurais e diversos, certo? Todos podemos ser muitas coisas ao mesmo tempo, desde que haja dedicação, disciplina, inspiração e, principalmente, transpiração. E a verdade é que eu sempre olhei para a indústria da música como empreendedor, com a mente de negócio, muito para além da minha arte, que já é um desafio enorme dado o número grande de artistas competentes. As pessoas não pensam por esse lado, mas todo artista de rua, artista de vagão, é também um empresário da própria arte. Eu nunca saí de casa sem uma estratégia, nunca saí de casa para fazer arte na rua sem uma meta financeira a ser batida por dia, nunca deixei de estudar o comportamento dos meus "clientes", as fortalezas e fraquezas dos meus "concorrentes". Leio muito sobre o mercado de uma forma geral, sou um estudioso de ofício. E isso abriu meus olhos para montar meu estúdio, que é onde gravo e mixo minhas músicas na maior parte das vezes. E fiquem atentos que daqui a pouco eu também vou produzir artistas, esse é o próximo passo! Eu no vagão e nos palcos sou o artista Massaki, mas fora deles minha mente é 100% empresarial.
Importante dizer que o fato de eu estar realizando o lançamento deste EP na Fábrica de Flows não quer dizer que mais à frente eu não continuarei a conversar com outros players para juntar forças. Tudo é estratégia. Mas, nesse primeiro momento, eu prefiro ter o leme do barco 100% nas mãos, ter mais controle sobre todas as decisões, e mais à frente a gente vai entendendo melhor quais os próximos passos a serem dados.
4. O videoclipe de “De Versos, Passageiros” será lançado junto com o álbum. O que você espera que o público sinta ao assistir a esse clipe e como ele se conecta com sua história?
R: Sendo objetivo, eu realmente espero que a música toque o coração das pessoas sobre o quão bonito é a arte de rua, a arte de vagão, a cultura popular, através da minha história de vida. Eu tenho muito orgulho de ser um artista de rua há mais de 10 anos e minha essência estará sempre ali. Eu já era feliz com zero seguidor nas redes sociais, porque ali está minha alma. Meu olho não brilha por ter 2M de seguidores em rede social, apesar de isso significar algum tipo de reconhecimento. Eu fico mais realizado na verdade é de ver que é exatamente essa arte que me deu há algumas semanas a chance de comprar um sofá para a minha mãe (como inclusive a própria letra da música conta). É isso que me move para frente, poder ajudar a quem está a minha volta a ser um pouco mais feliz, e também continuar a perseguir seus sonhos também.
5. Sua carreira cresceu exponencialmente nas redes sociais, com milhões de visualizações. Como você tem lidado com essa fama digital e como ela impactou sua vida e sua arte?
R: Como eu disse antes, a minha vida não mudou em absolutamente em nada, não teria porque mudar. Mudou o que está fora de mim, o entorno, a abertura maior das pessoas com meu trabalho, as oportunidades, a projeção da arte em si. Claro que as coisas estão mudando, mas para fora de mim, não para dentro. Eu sou uma pessoa extremamente caseira, odeio sair à noite se não for para trabalhar, amo estar com minha família, com minha namorada, meus amigos. Ser reconhecido nas ruas é muito bom, mas isso consequência da minha arte, e por isso eu a respeito muito, inclusive a ponto de me dedicar e estudar mais a mais todos os dias para que eu não a decepcione. Eu sou servo da minha arte e é por ela que vivo e me dedico. Então toda essa coisa de viralização, glamour, farras etc não me interessa muito, na real. Para você ter ideia, eu evito até de ler comentários nas redes sociais, porque sei que isso pode atrapalhar muito meu psicológico. Isso é tudo muito traiçoeiro, o cara que recebe milhões de elogios, se bobear se acha um gênio, e o que recebe milhões de críticas, se bobear se acha um idiota. Eu não quero isso, eu só quero continuar sendo o Victor Massaki, da quebrada de Guarulhos e que precisa de quase nada pra ser feliz.
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