Rachel Reis mergulha na própria pele e entrega seu disco mais visceral em “Divina Casca”
- Vivendo de Shows
- 15 de abr.
- 3 min de leitura
No novo álbum, a artista baiana revisita afetos, cicatrizes e ancestralidade para reafirmar sua identidade com autenticidade e ousadia Por Letícia Pinheiro, editora-chefe do Vivendo de Shows

“É um álbum para sentir na pele.”
Com essa frase, Rachel Reis apresenta seu segundo trabalho de estúdio, “Divina Casca”, lançado nesta terça-feira, 15 de abril, às 21h. O disco marca uma virada madura na carreira da cantora e compositora baiana, que vem se destacando por sua sonoridade plural — uma mistura singular de samba, reggae, MPB, eletropop e axé — e por uma lírica afetiva, íntima e comprometida com sua verdade.
Ao longo de 15 faixas inéditas, Rachel convida o ouvinte a atravessar com ela os caminhos de reconstrução pessoal e artística. “Divina Casca” é mais que um conjunto de músicas; é um manifesto sobre resiliência, identidade e amor-próprio. A produção reúne nomes de peso da música brasileira contemporânea, como Psirico, BaianaSystem, Nêssa, Don L e Rincon Sapiência, em uma proposta que mistura ritmos sem jamais perder o fio condutor da artista: a verdade de sua pele, suas marcas, sua voz.
A faixa-título, “Casca”, serve como chave simbólica para entender a proposta estética e emocional do álbum. Com direção de Aline Lata, o videoclipe é o primeiro de uma série de visuais pensados para cada canção do disco — recurso que não apenas amplia a experiência sensorial, como reforça o caráter narrativo do projeto.
“Trago um pouco de mim em cada faixa, até mesmo nas partes que pareciam quebradas”, explica a artista. A “casca” aqui não é armadura, mas um registro da jornada. Cada rastro na pele carrega história, dor e cura. E é justamente ao expor suas camadas que Rachel constrói a força de “Divina Casca”.
De dentro pra fora: som e corpo em expansão
A abertura do álbum com “Ensolarada” já dá o tom: trata-se de um trabalho solar, mas sem fugir das sombras. Na sequência, “Noite Adentro” e “Jorge Ben” mergulham em nuances de amor e melancolia, equilibrando intensidade emocional e delicadeza instrumental.
“Alvoroço”, com BaianaSystem, entrega a Bahia em estado bruto: pulsante, eletrizante e política. “Tabuleiro”, com Don L, Nêssa e Rincon, é um dos pontos altos do disco — um hino à autonomia criativa e à liberdade dentro de uma indústria que, muitas vezes, engessa vozes negras e femininas.
Canções como “Furacão” e “O Maior Evento da Sua Vida” exploram rupturas e recomeços, enquanto “Sal da Pele” e “Quando” exaltam amores que aquecem em vez de consumir. Já em “Apavoro”, parceria com o Psirico, o pagodão se mistura a ironia e sarcasmo, numa faixa que transita entre o cômico e o político.
Com produção cuidadosa, arranjos sofisticados e uma curadoria de participações impecável, “Divina Casca” é um disco que amplia as possibilidades da música popular brasileira atual, e reafirma Rachel Reis como uma das vozes mais criativas e consistentes da nova geração.
Resenha crítica — “Divina Casca”, de Rachel Reis
“Divina Casca” é um disco de profundidade emocional rara, que alia ousadia estética e honestidade lírica em um projeto coeso e multifacetado. Rachel Reis demonstra maturidade ao abordar temas como autocuidado, ancestralidade, amor e liberdade, sem escorregar no didatismo ou na obviedade.
A principal força do álbum está em sua capacidade de narrar processos pessoais de forma universal. Mesmo quando se debruça sobre dores íntimas, Rachel o faz com um lirismo generoso, que acolhe o ouvinte. A produção musical, assinada por diferentes nomes, acompanha a versatilidade da artista sem diluir sua identidade. Ao contrário: cada faixa reafirma sua singularidade.
Destaques como “Tabuleiro”, “Casca” e “Sal da Pele” revelam não apenas a potência vocal da cantora, mas sua habilidade de trafegar entre o pop, o axé, o trap e o pagodão com naturalidade. A presença de feats é bem dosada, sem eclipsar a protagonista. O álbum é Rachel por inteiro — acompanhada, mas nunca ofuscada.
Se “Meu Esquema” (2022) apresentou Rachel ao grande público com promessas, “Divina Casca” as cumpre. Um disco que exige escuta atenta e entrega recompensa emocional e estética à altura. Um passo definitivo rumo à consolidação de uma carreira que só tende a crescer. OUÇA Divina Casca AQUI
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