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[Opinião] Amar é deixar ir: o cancelamento do Primavera Sound 2024 na América Latina

  • Foto do escritor: Vivendo de Shows
    Vivendo de Shows
  • 4 de set. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 7 de set. de 2024

Após edições bem-sucedidas em 2022 e 2023, o cancelamento do Primavera Sound em 2024 levanta questões sobre o futuro dos grandes festivais


por Letícia Pinheiro, editora-chefe do Vivendo de Shows

Foto: Divulgação


O cancelamento do Primavera Sound 2024 na América Latina nos leva a refletir sobre os desafios e as complexidades enfrentados pela indústria de festivais, especialmente em um contexto pós-pandêmico. A decisão, como mencionada no comunicado oficial, foi resultado de “dificuldades externas” que impediram a realização dos eventos com o nível de qualidade que os fãs merecem. Mas o que essas “dificuldades externas” realmente significam?


Nos últimos anos, a América Latina tem se consolidado como um território fértil para grandes festivais internacionais. Eventos como o Lollapalooza, Rock in Rio, e o próprio Primavera Sound encontraram aqui um público vibrante e ávido por experiências culturais que, até então, eram predominantemente europeias ou norte-americanas. A chegada do Primavera Sound em 2022 foi vista como um marco, não apenas pela qualidade artística do evento, mas também pelo que ele representava em termos de reconhecimento da região como um polo importante para a música global.


Estive presente na edição de 2023, em São Paulo, e posso atestar que o festival conseguiu entregar uma experiência digna da sua reputação. O espaço do Autódromo de Interlagos, apesar de reduzido (diferente do Lollapalooza e do The Town), ainda ofereceu uma estrutura funcional e acolhedora. As ativações de marcas, embora menores, foram criativas e trouxeram brindes que agradaram ao público, demonstrando um cuidado com a experiência do visitante. Mesmo com o calor intenso (que pôde ser amenizado com a distribuição gratuita de protetor solar e diversas ilhas de hidratação), que tornou a jornada dos fãs mais desafiadora, o festival conseguiu manter sua essência.



Foto: acervo pessoal


O cancelamento de 2024, portanto, não pode ser visto apenas como uma perda para os fãs, mas também como um sinal de alerta para os desafios que os grandes eventos culturais enfrentam na América Latina. A organização de um festival dessa magnitude envolve uma complexa teia de logística, financiamento, parcerias e garantias que, muitas vezes, podem ser prejudicadas por fatores externos como instabilidade econômica, variações cambiais, políticas governamentais restritivas e, claro, os impactos duradouros da pandemia de COVID-19 que o setor de eventos continua enfrentando.


As edições anteriores do Primavera Sound na América Latina mostraram que o festival tem um imenso potencial na região. Em 2022, a estreia foi um sucesso absoluto, com line-ups que misturaram grandes nomes internacionais com talentos locais, criando uma ponte cultural entre continentes. O público latino-americano, conhecido por sua paixão e entusiasmo, recebeu o festival de braços abertos, fazendo com que ele se tornasse uma parte importante do calendário musical regional.


Porém, essa interrupção forçada em 2024 levanta questões sobre a viabilidade de manter um evento desse porte em uma região que, apesar de seu imenso potencial, ainda enfrenta desafios significativos em termos de infraestrutura e estabilidade. Não podemos ignorar que, para muitos organizadores, a América Latina ainda representa um mercado desafiador, onde o retorno sobre o investimento nem sempre é garantido.


É importante também destacar o impacto que esse cancelamento terá sobre os artistas locais, que viam no Primavera Sound uma oportunidade única de se conectar com públicos maiores e diversificados. A ausência de um festival dessa magnitude reduz as chances de exposição para talentos emergentes, que dependem desses grandes palcos para alavancar suas carreiras.


A decisão de cancelar o Primavera Sound 2024 na América Latina pode ser vista como um retrocesso momentâneo, mas também deve servir como um ponto de reflexão para todos os envolvidos na indústria musical. É crucial que, ao olharmos para o futuro, consideremos maneiras de tornar os festivais mais resilientes e adaptáveis às realidades locais, garantindo que a América Latina continue a ser um destino atraente para eventos culturais globais.


Por fim, enquanto aguardamos o retorno do Primavera Sound à região, é fundamental que todos – organizadores, artistas, patrocinadores e fãs – mantenham o espírito de celebração da música e da cultura que caracterizou as edições anteriores. O festival pode estar temporariamente ausente, mas seu legado e impacto cultural na América Latina continuarão a reverberar, alimentando a esperança de que, em breve, poderemos celebrar novamente juntos, com a mesma energia e paixão que marcaram as edições passadas.


Foi bom enquanto durou, Primy. Vou sempre me lembrar de você.

 
 
 

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